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Energia extra de R$ 36 bilhões com a força do vento e do sol

No último dia 2 de novembro, a geração de energia eólica (a partir dos ventos) alcançou inéditos 10% de toda a eletricidade gerada no país, chegando a responder, inclusive, por cerca de 45% da carga na Região Nordeste, onde ultrapassou as hidrelétricas.

O Globo - 22/11

Bruno Rosa

RIO - No último dia 2 de novembro, a geração de energia eólica (a partir dos ventos) alcançou inéditos 10% de toda a eletricidade gerada no país, chegando a responder, inclusive, por cerca de 45% da carga na Região Nordeste, onde ultrapassou as hidrelétricas. Já a solar começa a dar seus primeiros passos, após dois leilões bem-sucedidos neste ano. Em tempos de reservatórios vazios e questionamentos ambientais envolvendo a construção de novas usinas, as duas fontes renováveis projetam R$ 36 bilhões em investimentos até 2019. Um recorde.

 
Com base nos leilões de energia organizados pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a tarifa média das eólicas, por exemplo, atingiu há duas semanas R$ 203,46 por MWh, aumento de 38%, ante o certame de novembro de 2014 (R$ 147,49 por MWh). No caso da solar, o valor subiu 38,4%, de R$ 215,12 por MWh, no ano passado, para R$ 297,75 por MWh neste ano.

— Há um aumento claro da percepção de risco no Brasil. Os custos de financiamento estão mais altos. Há ainda a variação do preço do dólar. Mas, apesar desse avanço nos custos, as fontes renováveis vão continuar crescendo com força — diz Thais Prandini, diretora executiva da Thymos.

Élbia Silva Gannoum, presidente executiva da Abeeólica, associação que reúne as empresas do setor, diz que, mesmo com as incertezas atuais da economia, o segmento parece uma “ilha de prosperidade”. A estimativa é chegar a 2019 com potencial para gerar 20% de toda a energia do sistema elétrico do Brasil, com um total de 18.600 megawatts (MW) e R$ 24 bilhões de investimentos até 2019.

— O crescimento seria maior se houvesse mais linhas de transmissão no país, já que hoje só vão a leilão usinas eólicas que contam com as linhas prontas. A medida visa a evitar problemas como os que tínhamos antes, ao ter um parque eólico pronto sem poder jogar essa energia no sistema. Se não fosse a eólica, o Nordeste teria tido racionamento. Lá, geramos mais energia que as hidrelétricas — diz Élbia.

E o sol também promete brilhar forte. Rodrigo Sauaia, diretor executivo da Absolar, destaca que, apesar de o dólar alto ter influenciado o custo da geração da energia solar para o consumidor, o setor vive um divisor de águas em 2015. Os dois leilões realizados neste ano vão adicionar 3.300 MW ao sistema já em 2018, gerando um investimento de cerca de R$ 12 bilhões.

— Estamos dando a largada para a criação de um mercado solar. A crise econômica influencia um pouco. Mas o dólar alto é o principal fator, já que os equipamentos são importados. Agora, o trabalho é desenvolver uma cadeia de fornecedores para o Brasil, assim como já ocorre com a eólica — explica Sauaia.

Brasil tem maior aproveitamento, diz agência

Michael Taylor, analista sênior da Agência Internacional de Energia Renovável (Irena, na sigla em inglês), diz que o Brasil se beneficia, por desenvolver as fontes eólica e solar após o mercado mundial estar mais maduro, o que garante custos menores. Além disso, há um atrativo a mais no Brasil. Segundo Taylor, o fator de aproveitamento solar no Brasil — ou seja, quanto do que é captado vira energia — varia entre 23% e 26%, e o da eólica oscila ente 32% e 55%, acima, afirma ele, do resto do mundo.

— As energias eólica e solar vêm crescendo muito porque estão ficando mais competitivas, e as economias estão buscando uma matriz mais limpa. Em 2015, no mundo, a solar vai adicionar 55.000 MW em nova capacidade, pouco menor que os 58.000 MW da eólica. Além de países como China e Índia, emergentes como o Brasil vêm se destacando no setor. Em 2014, o Brasil instalou um recorde de 2.483 MW em eólica. O futuro é promissor. Mas o desafio está relacionado ao ambiente político, que precisa de um modelo para permitir que a indústria invista e que sejam reduzidos os riscos, garantindo que as taxas baixas de financiamento estejam disponíveis — destaca Taylor.

Uma das principais empresas do setor, a Casa dos Ventos, que conta com cerca de 2.100 MW em projetos de energia eólica em sua carteira e investimentos de R$ 6 bilhões em projetos que vão entrar em operação até abril de 2017, mira, agora, no setor solar. Lucas Araripe, diretor de projetos e novos negócios da empresa, explica que a companhia pretende participar dos leilões de energia solar no ano que vem.

— O setor solar ainda conta com algumas incertezas, como a questão do suprimento de equipamentos e o financiamento. Além disso, decidimos instalar 20 estações solares para medir a radiação em diversas partes do Brasil. Assim, vamos ter mais certeza e não precisar olhar os dados via satélite, como é feito hoje no Brasil — diz Araripe.

O executivo pretende instalar os projetos solares ao lado dos eólicos, como forma de aumentar as sinergias. Hoje, dos cinco parques eólicos, dois estão em Pernambuco, e outros dois no Piauí e um no Ceará:

— A nossa estratégia é ter uma grande área e usar a mesma infraestrutura elétrica. O valor da energia nos últimos leilões vem aumentando, e o dólar vem prejudicando. Então, a busca é manter o mesmo nível de retorno.

A energia solar conta ainda com a microgeração, por meio da instalação de placas nos tetos de casas e prédios. O sistema, que pode custar até R$ 25 mil para uma família de quatro pessoas, vem crescendo com força. Eram 75 clientes em 2013, e este ano já são 1.200, gerando 10 MW. Segundo Rafael Coelho, responsável pela geração distribuída da Prátil, a procura mais que dobrou neste ano.
— Temos 80 projetos no Brasil, com destaque para o Rio de Janeiro. Com a energia cara, existe a preocupação em buscar alternativas, além da conscientização maior da sustentabilidade.

Projeto de lei pode incentivar mercado

Diogo Zaverucha, sócio da SolarGrid, que vende placas solares e conta com 300 clientes no Brasil, lembra que já ocorre uma mudança de cultura entre os brasileiros:

— Com esse sistema, é possível ter uma redução de até 95% na conta de luz. Os equipamentos podem ser financiados em até dez anos. Mas é importante o consumidor adotar um consumo eficiente, como lâmpadas de LED, e comprar equipamentos que consomem menos energia. O potencial é grande. O segmento vai crescer.

Um projeto de lei (1.917/15), em tramitação no Câmara dos Deputados, pode ajudar a impulsionar o segmento. Segundo Reginaldo Medeiros, presidente da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel), o projeto, se aprovado, vai permitir que os consumidores, ao instalarem painéis solares em suas casas, possam vender a energia excedente para os vizinhos, por exemplo. Hoje, só é possível ter painéis com base no consumo mensal. O que é gerado pelos painéis é descontado do volume consumido, e o excedente é doado à concessionária.

— Estamos caminhando para um cenário de o consumidor interagindo mais com a rede. Ele tem de ter liberdade para comprar sua energia, assim como já ocorre na Europa e em várias cidades dos EUA. Na Câmara, o projeto já foi aprovado na Comissão de Defesa do Consumidor. Agora, será analisado nas comissões de Minas e Energia e Constituição e Justiça. Se aprovado, vai direto para o Senado — explica Medeiros, lembrando que o projeto vai permitir ao consumidor comprar energia também de qualquer concessionária no país.




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