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Ibama vê risco de rompimento de hidrelétrica em MG

Passados oito meses do rompimento da barragem da mineradora Samarco em Mariana (MG), técnicos do Ibama apontam para o risco à segurança da estrutura da usina hidrelétrica Risoleta Neves

Valor - 11/07

Marcos de Moura e Souza

Passados oito meses do rompimento da barragem da mineradora Samarco em Mariana (MG), técnicos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama) apontam para o risco à segurança da estrutura da usina hidrelétrica Risoleta Neves. O temor é que com o período de chuvas, esperado a partir de outubro, o volume lama e rejeito de minério de ferro que já está no lago da hidrelétrica, ou próximo a ele, aumente a tal ponto que derrube a usina.

"Existe o risco de a usina se romper", disse ao Valor o superintendente do Ibama em Minas Gerais, Marcelo Belisário. Na sexta-feira, a presidente do órgão, Suely de Araújo, e ele se reuniram em Belo Horizonte com procuradores do Ministério Público Federal para discutir o caso.

A hidrelétrica de Candonga, como é chamada, fica entre os municípios mineiros de Rio Doce e Santa Cruz do Escalvado. Tem 140 MW/h de potência instalada e está desligada desde a tragédia da Samarco, ocorrida em 5 de novembro. Pertence à Aliança Energia (sociedade entre a Vale e a estatal de energia elétrica de Minas Gerais, Cemig) e à própria Vale. A Samarco também é da Vale, em parceria com a BHP Billiton.

"Em dezembro foi feita uma batimetria que mostrou que o nível do lago estava na cota 306 em relação ao nível do mar. Em abril, outro teste apontou que tinha chegado a 312,4", disse Belisário. "Notificamos o consórcio da usina sobre qual seria o limite que eles poderiam garantir a segurança e eles disseram que seria um metro a mais [em relação aos 312,4 metros]", continuou. "Isso não significa que a estrutura da barragem da hidrelétrica vai cair de repente se esse limite for ultrapassada, mas isso é um alerta."

O problema, segundo o Ibama, é que a Samarco não conseguiu até agora estancar totalmente o carreamento de lama e rejeito de minério de ferro para os rios que alimentam o lago da usina.

A Samarco trabalha na construção de diques e também na revegetação e construção de paredões de pedras nas margens dos rios para tentar deter o carreamento e a movimentação de material que se intensifica principalmente quando chove. A Samarco começou a dragar o lago. Mas há dúvidas sobre o avanço e eficácia dessas medidas até a época das chuvas. O Ibama diz que elas estão atrasadas.

O material tem escorrido do que sobrou da barragem de Fundão, destruída em novembro, e de outros pontos da área da Samarco em Mariana onde parte da avalanche ficou contida.

"O que o Ibama já identificou é que as ações propostas [pela Samarco] até então não estão sendo suficientes e não estão com os prazos adequados", disse Belisário. "A gente precisa revisar o planejamento e que precisa que a Samarco nos informe quando esse evento será controlado e como", disse Belisário.

Quando Fundão se rompeu - acidente que matou 18 pessoas -, a massa de lama e rejeito invadiu os rios do Carmo, Gualaxo do Norte e Doce, além de pastos, matas e áreas residenciais. Belisário lembra que apenas uma pequena parte do que desceu de Fundão realmente passou da usina. "Mais de 80% de tudo o que vazou permanece depositado nos rios do Carmo e Gualaxo e no reservatório de Candonga."

Esse material que está se movimentando nos rios é o que pode aumentar a pressão sobre Candonga se as chuvas forem intensas. "É essa a escala de problema que a gente pode ter", diz Belisário. Urgente, diz ele, é que a Samarco bloqueie o lançamento de mais rejeito e lama e que detenha a movimentação do material que está nos rios. "Para, no limite, evitar de Candonga se romper", disse.

Por meio de sua assessoria, a Aliança Energia afirmou ontem que a barragem de Candonga é toda monitorada para que se saiba se a pressão sobre a estrutura está aumentando ou não.

A leitura dos dados passou a ser feita diariamente. Antes da tragédia, era mensal.

A empresa diz que até o momento, a estrutura está estável. A assessoria enfatiza que esse é o dado até o momento. "Se o material da Samarco continuar sendo carreado, é perigoso. Chegando mais material com as chuvas, muda a condição do lago da usina", disse a empresa. As comportas estão abertas.

Jorge Munhoz, um dos procuradores do Ministério Público Federal envolvidos no caso Samarco, disse na sexta ao Valor que o órgão, paralelamente ao Ibama, vai adotar novas medidas contra a Samarco. O MPF tem sido crítico ao acordo firmado recentemente entre a empresa, o governo federal e os Estados de Minas e Espírito Santo que definiu ações da empresa para garantir a recuperação dos danos. O acordo foi suspenso dias atrás por meio de uma liminar.

Marcelo Belisário, do Ibama, avalia: "Temos que dar um passo atrás. Não estamos ainda na recuperação da bacia do Rio Doce, ainda estamos na emergência".




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