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BNDES volta ao mercado externo com emissão de US$ 1 bi em bônus verde

Os títulos verdes entraram no radar do mercado local de renda fixa diante do crescimento do instrumento no exterior.

Valor Econômico - 03/05 BNDES volta ao mercado externo com emissão de US$ 1 bi em bônus verde

Daniela Meibak e Francisco Góes 

BNDES volta ao mercado externo com emissão de US$ 1 bi em bônus verde
Por Daniela Meibak e Francisco Góes | De São Paulo e do Rio
Depois de três anos ausente, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) voltou ao mercado internacional de dívida e levantou US$ 1 bilhão em papéis de sete anos. Com o selo "verde", a emissão atraiu uma demanda total de acima de US$ 5 bilhões, o que contribuiu para a redução da taxa de retorno, estimada na abertura da oferta, de 5,25% para 4,8% ao ano.

A retomada das captações permite ao banco aproximar-se novamente do mercado de dívida e faz parte da estratégia de diversificação de fontes de recursos. Embora hoje o banco tenha uma posição confortável de caixa, da ordem de R$ 130 bilhões ao fim de 2016, a operação é importante porque dá ao banco condições de formar uma referência de preços no mercado, inclusive para futuras captações que poderão ser necessárias num momento de recuperação dos investimentos na economia.

O BNDES não comentou a operação específica de green bonds alegando que se encontra sob período de silêncio. Mas, em nota, destacou que as captações de mercado resultam de relações institucionais desenvolvidas com dezenas de investidores de vários continentes, o que requer aproximações e contatos frequentes. "O banco estava fora das captações externas de mercado desde 2014. A ausência do mercado por prazos dilatados dificulta o entendimento da estratégia, das novas orientações e da importância do BNDES quando da esperada retomada dos investimentos", afirmou o banco.

Segundo o BNDES, o maior acesso a fontes de mercado requer, portanto, a transformação de relacionamento em operações, de modo a facilitar emissões futuras quando houver a "materialização" da retomada dos investimento de longo prazo. Ainda de acordo com o banco, a estratégia de captações não vai significar endividamento adicional líquido de mercado em 2017, uma vez que recentemente amortizou integralmente empréstimo internacional, no valor de US$ 400 milhões, e planeja não refinanciar uma emissão de € 750 milhões com vencimento ainda neste ano.

Os recursos levantados com os títulos verdes serão usados para financiar projetos sustentáveis da área de energia eólica e solar. Segundo Pedro Pereira, executivo da área de mercado de dívida do Bank of America Merrill Lynch (BofA), que liderou a emissão ao lado de Crédit Agricole e J.P. Morgan, apesar de não precisar do dinheiro, o BNDES buscou com a operação mostrar para os investidores globais o foco sustentável do banco. "Os recursos poderão ser usados durante toda a vida do novo bônus e também para empréstimos já contratados dos últimos dois anos", afirma.

Pereira conta que a emissão atraiu ordens de grandes fundos dedicados a títulos verdes na Europa, especialmente por se tratar de recursos para financiar energia eólica. Essa forte demanda, acrescenta, teve uma contribuição importante para a redução da taxa paga pelo BNDES. "Esses investidores são menos sensíveis a preço, o que permitiu 'apertar' bastante a taxa", diz. E mostra que a estratégia de prolongar as reuniões com investidores para atender esse grupo de fundos dedicados que não conhecia o banco emissor foi acertada, afirma.

O desejo de voltar ao mercado de bônus já vinha sendo manifestado pela atual diretoria da instituição. Em recente entrevista ao Valor, o diretor das áreas de gestão de riscos, tecnologia da informação e controladoria do BNDES, Ricardo Baldin, afirmou que o banco estava estudando voltar ao mercado de capitais, com operações tanto no mercado doméstico quanto internacional.

Em relatório, a Moody's, que atribuiu o rating "Ba2" à emissão, destacou que, nos últimos 18 meses, a direção do BNDES tem trabalhado para aprofundar o foco em sua missão como banco de desenvolvimento. Entre as medidas, ressaltou a agência, o banco revisou suas políticas e as condições de crédito para alinhar melhor os recursos às suas prioridades estratégicas e às demandas de mercado. "Embora a demanda por crédito ainda permaneça fraca, na medida em que o Brasil começa a emergir de uma profunda recessão, o BNDES tende a estar mais bem posicionado para sustentar as futuras necessidades de investimento e crescimento da economia", afirmou a agência em relatório.

Já de olho no mercado de emissões, de acordo com Baldin, o banco de fomento está estruturando internamente uma área de captação. "Queremos treinar esse pessoal para captar [no futuro] mesmo que hoje não precise. Queremos fazer um exercício [com a equipe do banco] para eles aprenderem a trabalhar nesse mercado, firmarem conceitos. É o que faremos no futuro", afirmou. Segundo ele, o BNDES está planejando alguns projetos-piloto de captação.

Desde que assumiu a presidência do BNDES, no ano passado, Maria Silvia Bastos Marques, tem falado que o banco poderia voltar a captar como fez no passado. A emissão de bônus surge como uma alternativa para o banco compor suas fontes de recursos, baseadas no FAT e no retorno dos investimentos.

Nos últimos anos, o BNDES também recebeu aportes do Tesouro Nacional, mas a nova realidade da instituição é de não contar mais com essa alternativa. Hoje o BNDES tem uma situação confortável não só de caixa, mas também em relação ao patrimônio de referência, que estava em R$ 136 bilhões no fim de 2016, equivalente a 21,7% de seus ativos ponderados.

Segundo o BNDES, os recursos captados no mercado internacional são incorporados ao orçamento e utilizados para os objetivos gerais do banco tais como empréstimos no mercado brasileiro e investimentos no mercado de capitais. A obrigação com emissões de bônus do BNDES em 31 de dezembro de 2016 era de R$ 18,7 bilhões.

(Daniela Meibak e Francisco Góes | De São Paulo e do Rio)

BNDES cria fundo de R$ 500 mi com foco em energia renovável

Por Daniela Meibak | De São Paulo

Os títulos verdes entraram no radar do mercado local de renda fixa diante do crescimento do instrumento no exterior. A CPFL Renováveis teve a primeira debênture certificada internacionalmente e o BNDES, em parceria com a Vinci Partners, prepara um fundo de R$ 500 milhões para investir em projetos de energia sustentável. Lá fora, o estoque dos "green bonds" dobrou nos últimos 15 meses e representa mais de US$ 200 bilhões.

Apesar de não trazer diferença em termos de retorno ("yield"), para o emissor, a oferta desse instrumento de dívida é uma oportunidade para diversificar a base de investidores, ampliando as fontes de recursos. É com isso em mente que o BNDES resolveu criar o fundo.

André Salcedo, da área de mercado de capitais do BNDES, explica que a instituição já vinha fazendo investimentos em debêntures de infraestrutura de projetos de energia e observava pouca disposição do investidor para financiar obras no longo prazo.


Dependente do investidor pessoa física, que tem isenção de Imposto de Renda em debêntures de infraestrutura, esse mercado enfrenta restrições para o crescimento por conta do apetite desses investidores. O estoque desse segmento soma cerca de R$ 6,2 bilhões. "O que mais temos visto são projetos de energia e parques eólicos, vinculados a emissões pequenas. Elas têm maior dificuldade de colocação porque o investidor não quer ter uma fatia grande de uma emissão só, porque o próprio segmento não é muito conhecido e tem mais riscos do que outras áreas como transmissão", explica.

Disso surgiu a ideia de transformar os papéis de dívida em "green bonds", com certificação internacional, e criar um fundo para fomentá-los. De um lado, o banco começou a procurar um parceiro para atuar junto no fundo, o que resultou na escolha da Vinci Partners. Do outro, iniciou conversas com companhias para mostrar o benefício da certificação das emissões. A iniciativa é feita em parceria com a Climate Bonds Initiative, empresa que emite os selos.

"O fundo é simples, o BNDES vai ter participação de até 50% e o restante será captado pela Vinci com investidores institucionais. O primeiro benefício é acessar uma base de investidores mais ampla. Com isso, é possível que gradualmente vejamos redução nos spreads com a maior concorrência para comprar os papéis", afirma Marcello Almeida, sócio da Vinci.

Nessa linha, a CPFL Renováveis obteve a certificação internacional de uma emissão de debêntures no valor de R$ 200 milhões que já estava no mercado. É a primeira debênture a obter o selo internacional. Até então, só bônus emitidos por empresas no exterior conseguiram o selo, como é o caso da BRF e da Suzano. Os recursos levantados pela CPFL serão utilizados para a construção dos projetos eólicos Campos dos Ventos e São Benedito no Rio Grande do Norte. Essa debênture, no entanto, não poderá ser comprada pelo fundo do BNDES por não ser de infraestrutura, seguindo a lei 12.431.

Linda Murasawa, superintendente-executiva de desenvolvimento sustentável do Santander, confirma que no mercado internacional não existe diferença de yield, mas que outro benefício importante é a agilidade na colocação dos papéis dado o bolso maior de dinheiro. "Os green bonds têm sido mais eficientes, com a venda feita em horas", disse. Ela explica que o principal motivo é a escassez de projetos sustentáveis.

Diante do tamanho da indústria de renda fixa global, o ramo ainda é pequeno, mas o que chama atenção é a taxa de crescimento. O mercado global ultrapassou US$ 200 bilhões em estoque no primeiro trimestre deste ano, consequência dos US$ 92 bilhões emitidos no ano passado e dos US$ 19 bilhões vendidos só nos meses de janeiro e fevereiro deste ano, segundo o Bank of America Merrill Lynch (BofA). Desde janeiro de 2016, oito países e cerca de 150 novos emissores entraram no mercado. A China ofertou US$ 30 bilhões em 2016 e assumiu o posto de maior emissor. O banco americano projeta emissão de US$ 90 bilhões a US$ 130 bilhões em 2017 no cenário base, podendo chegar a US$ 150 no caso mais otimista.

O BNP Paribas prepara o lançamento para julho, na Europa, do seu primeiro fundo dedicado a esse instrumento, tendo já captado € 120 milhões, mas sem limite para o teto de recursos. Os investidores buscam yield, explica Felipe Gordillo, executivos de investimentos sustentáveis do BNP, mas só com esse instrumento encontra-se um caminho de transição para a economia de baixo carbono.

"Na França, como resultado da lei de transição energética, os investidores profissionais precisam informar como as empresas estão incorporando o critério de energia limpa em seus investimentos e como apoiam a questão da mudança do clima. Uma maneira de provar isso é mostrar que estão comprando cotas de um fundo dedicado [ao segmento]", diz Gordillo, do BNP.

Até agora, os especialistas não veem grande impacto do governo de Donald Trump nesse mercado, uma vez que a maior parte das emissões desses não tem saído dos Estados Unidos.

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