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Uso de energia solar em residências cresce 70%. Confira as capitais do país onde mais vale a pena

Com alta de 90% na conta de luz nos últimos 5 anos, aumenta a procura por painéis, que custam a partir de R$ 10 mil. No Rio, equipamento se paga em 2,7 anos

O Globo - 10/05/2019
Por Ramona Ordoñez e Letícia Lopes


Nos últimos cinco anos, a tarifa de energia elétrica subiu mais de 90% no Brasil. E o preço do painel solar para geração residencial vem caindo aos poucos e já custa a partir de R$ 10 mil. Com isso, só este ano, cresceu em quase 70% o uso de painéis solares por residências e pequenos comércios e indústrias.

Com muita incidência de luz solar, ICMS elevado e uma tarifa cara de energia, o Rio de Janeiro é a região metropolitana do país onde é mais vantajosa a instalação de painéis solares em casa.

Segundo dados da comercializadora de energia Comerc, o consumidor do Rio atendido pela Enel consegue ver o retorno do investimento em um painel de energia solar em pouco mais de dois anos e meio (2,7 anos).

Ou seja, a economia obtida na conta de luz durante este período paga o custo do equipamento e, a partir daí, o consumidor já obtém lucro. Em muitos casos, é possível vender o excedente de energia gerado em casa na rede elétrica.

No Rio, quem é cliente da Light consegue pagar o custo do equipamento em pouco mais de três anos (3,32). Teresina, Manaus e Belém são outras capitais com rápido retorno do investimento, de menos de 3 anos. Em São Paulo, são 5,34 anos.

Com o uso de energia solar ganhando escala, o tempo de retorno vem caindo rapidamente, segundo a Comerc. O mesmo levantamento da Comerc realizado em 2018 nas diferentes capitais do país apontava, em média, um prazo seis meses maior para compensar o custo da instalação do painel solar em relação a este ano.

Especialistas afirmam que optar por um painel solar residencial vale a pena para quem paga uma conta de luz de R$ 500 ou mais.

Síndico de um condomínio residencial no Méier, Zona Norte do Rio, Antônio Carlos Costa instalou este ano equipamentos de energia solar no local. Com 120 apartamentos distribuídos em dois blocos, a energia gerada serve para abastecer as áreas comuns do condomínio, incluindo os cinco elevadores, aparelhos de ar-condicionado dos salões de festa, além de toda a iluminação das garagens.

— A nossa média de conta de luz é de R$ 12 mil. Nos primeiros 15 dias, já tivemos uma economia de R$ 5 mil. O benefício é considerável. Temos até um aplicativo no qual acompanhamos a geração de energia e economia que está sendo feita por período — explica o síndico.

Depois de passar por aprovação na assembleia do condomínio, o sistema foi instalado nas cobertura dos dois blocos em cerca de três meses, e vai custar R$ 780 mil, pagos em parcelas de R$ 6.500 durante 10 anos.

— Daí para frente o lucro é de 100% e só pagaremos a taxa básica de imposto da Light — diz Costa.
Também no Méier, um edifício comercial, que conta com 101 salas, além de lojas numa galeria, optou por instalar um sistema de captação de energia solar. As placas fotovoltaicas vão ocupar 500 metros quadrados da torre do edifício, construído na década de 1970.

— Hoje a gente paga em torno de R$ 9,2 mil de conta de luz. Nossa usina produzirá 100% da média de consumo elétrico do edifício. Nós estamos pagando 10% com valor com reservas do prédio em parcelas de R$ 8,2 mil. Depois de cinco anos, não pagamos mais nada — conta o síndico Carlos Samuel de Oliveira.

Hoje, o preço do equipamento para gerar energia solar custa a partir de R$ 10 mil, no caso de um aparelho com potência suficiente para atender uma casa com dois moradores. Numa residência com quatro pessoas, o custo fica em torno de R$ 20 mil, de acordo com o Portal Solar, que reúne informações sobre o setor.

A instalação de painéis solares em casa conta hoje com subsídios que, a partir do ano que vem, poderão ser suspensos. Está em discussão na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) rever os incentivos dados ao consumidor para oferecer, na rede elétrica, o excedente de energia gerado no seu domicílio. As novas regras entrarão em vigor em 2020.

No fim do ano passado, o país tinha cerca de 450 megawatts (MW) instalados em sistemas de geração solar própria pelos consumidores. Hoje, já são 760 MW, segundo dados da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar).

E a previsão é de que, no fim deste ano, o total chegue a mais de 1.000 MW — ou seja, mais do que o dobro em relação a 2018.

A vice-presidente da associação, Bárbara Rubim, afirma que há 75 mil unidades de geração de energia solar instaladas no país, entre residenciais, comerciais, industriais e até de órgãos públicos.

— Quanto mais alta a tarifa de energia, mais rentável se torna instalar um sistema de geração solar. Um consumidor que investir em sua própria geração de energia no Rio de Janeiro, em menos de cinco anos tem o retorno do valor investido, em um sistema com vida útil de 25 anos — destaca Bárbara.

Hoje, a geração de energia solar no Brasil, incluindo as usinas de grande porte, já ultrapassou a nuclear. São 2.056 MW de potência instalada de geração solar, incluindo a gerada pelos próprios consumidores, o equivalente a 1,2% da matriz elétrica do país . A energia nuclear tem 1.990 MW, ou 1,19% do total.

Além de instalar em sua própria casa, apartamento ou via condomínio, o consumidor residencial pode optar pelos sistemas de geração compartilhada ou remota, explica Rodolfo Meyer, presidente do Portal Solar, que reúne cerca de 9 mil empresas fornecedoras de materiais, equipamentos e de instalação de sistemas solares em todo país.

No sistema remoto, a placa solar pode ser instalada em outro local, desde que o espaço seja atendido pela mesma distribuidora de energia. É possível formar cooperativas ou consórcios, reunindo amigos e empresas, instalar um gerador maior numa área remota e usufruir da energia gerada.

A falta de incentivo fiscal para os projetos de geração compartilhada, porém, é um entrave. Bárbara, da Absolar, lembra que só Minas Gerais concede isenção de ICMS para a instalação deste tipo de sistema e também para os painéis em prédios, onde o equipamento é usado por diferentes consumidores.

— Os estados não dão incentivos com isenção de ICMS para projetos de geração compartilhada nem para instalação nos prédios, o que impede um crescimento maior da geração de energia solar em grandes cidades — afirma.

Mesmo sem o subsídio fiscal, com o avanço da energia solar, cresce também a oferta de crédito para a compra de equipamentos. Hoje há cerca de 70 linhas financiamento para projetos de geração distribuída solar fotovoltaica para residências e pequenos comércios. Vários bancos públicos concedem empréstimos, como o BNDES, o Banco do Brasil, o Banco da Amazônia (Basa) e o Banco do Nordeste (BNB).

Instituições privadas, como Bradesco, Santander, BV Financeira e Sicoob também têm crédito para o setor. As taxas variam entre cada instituição, mas ficam entre 0,9% e 1,3% ao mês.

A procura pela energia solar se reflete nos números das grandes empresas. A Engie, maior geradora privada de energia do Brasil, já instalou cerca de 2.000 sistemas de geração solar distribuída no país. A meta é dobrar este número em 2019. A empresa vai investir de R$ 50 milhões a R$ 100 milhões neste ano, especialmente em comunidades solares.

No Rio, a Green Solar, que formata o projeto e instala sistemas de geração solar, viu as vendas do setor crescerem 60% em 2018. Este ano, a previsão é de uma alta de 50%, afirma Maurício Ribeiro, sócio-diretor da Green Solar.

A empresa recebe entre 30 e 40 solicitações por semana para instalações de sistemas de geração solar em residências no Estado do Rio.

— Há um crescimento forte também da demanda de condomínios e comércios de médio e grande porte, como shoppings. O sistema vale muito a pena, principalmente para os clientes com contas de luz entr R$ 5 mil a R$ 40 mil — diz Ribeiro, acrescentando que a Green Solar já instalou mais de seis mil placas no estado.




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