Retomada econômica deve ser limpa e valorizar a biodiversidade

País precisa aproveitar vantagens competitivas e reverter a imagem negativa no exterior

Valor Econômico - 01/10/2020
Por Andrea Viall

A recuperação econômica do Brasil no pós-pandemia tem condições de ser realizada com base em uma estratégia de baixo carbono e valorização da biodiversidade. Para isso, o país precisa aproveitar suas vantagens competitivas, como a matriz energética limpa, e reverter a imagem negativa no exterior em relação à Amazônia, com ações mais firmes de combate ao desmatamento.

O aumento da conscientização do setor financeiro global em relação aos riscos sistêmicos provocados pelas mudanças climáticas vem ocorrendo nos últimos quatro anos e é um dos principais agentes de pressão para a economia de baixo carbono. O movimento parte dos bancos centrais em todo o mundo, que, comandados pelo Conselho de Estabilidade Financeira (FSB, na sigla em inglês), tem feito um esforço para alinhar as finanças globais a metas de sustentabilidade. “O mercado mundial hoje está mais consciente e tem grande demanda por ativos verdes, pois quer se afastar dos riscos climáticos. Não podemos afastar esse investidor”, diz Joaquim Levy, diretor de estratégia econômica do Banco Safra.

Levy, que foi ministro da Fazenda e presidente do BNDES, avalia que o Brasil é um dos países do mundo com mais vantagens comparativas para construir uma economia limpa e de baixo carbono, em razão da matriz energética com foco em energias renováveis e biocombustíveis, que deve ser fomentada. Segundo ele, a China emite 15 vezes mais gases de efeito estufa do que o Brasil; a Índia tem 90% de sua eletricidade gerada por meio de carvão e outros combustíveis fósseis. “A taxa de juros atual facilita o investimento de longo prazo e as possibilidades estão colocadas. O país precisa se organizar e focar nisso”, afirma.

O empresário Oskar Metsavaht, fundador da marca de moda Osklen e presidente do Instituto-e, hub que conecta projetos na área de sustentabilidade, afirmou que o caminho para a retomada da economia brasileira no cenário pós-covid passa por vender não apenas commodities agrícolas e minerais, mas sobretudo produtos conectados a um estilo de vida fluido e em sintonia com o meio ambiente. “Somos reconhecidos no mundo por sermos felizes, sexies, saudáveis e ter um bom relacionamento com a natureza. São valores muito contemporâneos”, disse.

O empresário defende um projeto de branding (construção de marca) que valorize esses atributos lá fora, assim como os EUA vendem o sonho americano e a Europa vende sua cultura, arte, gastronomia e produtos de alto valor agregado. “Somos uma nação empreendedora, artística e trabalhadora e precisamos de um branding como política de Estado que reflita isso”, propôs.

Metsavaht passou a fazer investimentos em empresas com atributos sustentáveis desde que vendeu o controle da Osklen para o grupo Alpargatas, em 2014. É sócio da SolarGrid, fornecedora de soluções em energia solar para empresas e residências; e a Greenpeople, empresa de alimentação saudável, tendo os sucos prensados a frio como carro-chefe.

O Brasil, por ter abrigado conferências importantes sobre desenvolvimento sustentável, como a Eco92 e Rio+20, e por defender uma matriz energética limpa, tornou-se uma referência internacional em diplomacia verde. Mas essa não é mais a linha defendida pelo chanceler Ernesto Araújo, que já proferiu declarações de negação em relação às mudanças climáticas, o que tem rendido muitas críticas ao Itamaraty.

Reverter a atual imagem negativa do Brasil perante investidores e consumidores estrangeiros é uma tarefa que precisa ser feita em nível de política de Estado, com a colaboração de empresas e da sociedade civil, na visão de Ana Toni, diretora executiva do Instituto Clima e Sociedade, organização que trabalha com o tema de mudanças climáticas. “O Brasil tem um bom histórico diplomático nas questões ambientais, mas essa imagem está derretendo lá fora. Precisamos de um projeto de Estado e sociedade para inserir o país nesse futuro verde”, disse Ana.

Além das empresas, a sociedade civil organizada - ONGs, academia, think tanks, e a força de trabalho - devem se mobilizar nessa direção. “Incluir os trabalhadores nessa discussão é fundamental, pois a economia verde vai gerar muitos empregos e ter emprego verde é melhor do que um emprego poluidor”, afirmou a diretora do ICS.




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