Emissões de dívida sustentável disparam na América Latina

Emissores da região levantaram neste ano cerca de US$ 8,7 bi em com papéis atrelados a projetos ambientais, sociais e de governança, ou ESG

Valor Econômico - 09/03/2021

As emissões de dívida sustentável deram um salto na América Latina, pois investidores que buscam retornos maiores em títulos verdes e sociais se sentem mais confortáveis com a compra de notas de alto rendimento.

Emissores da região levantaram neste ano cerca de US$ 8,7 bilhões em vendas internacionais de dívida atrelada a projetos ambientais, sociais e de governança, ou ESG na sigla em inglês, segundo dados compilados pela Bloomberg. O volume se aproxima do recorde de US$ 10,8 bilhões emitido em todo o ano passado. E há muito mais por vir.

Governos da região planejam emissões de títulos verdes, e o BID Invest, braço do Banco Interamericano de Desenvolvimento, trabalha com emissões em mais 15 títulos verdes, sociais e de sustentabilidade para este ano.

Muitos emissores na América Latina têm grau especulativo, enquanto a maior parte do mercado ESG se concentra em empresas com grau de investimento e governos. Isso pode explicar por que governos e companhias da região emitiram apenas 2% dos cerca de US$ 1,6 trilhão em dívida ESG vendida globalmente de 2018 a 2020.

Mas, nos últimos meses, investidores de títulos ambientais ou sustentáveis se sentem mais confortáveis em comprar títulos de alto rendimento para conseguir retornos mais elevados.

Uma parte do mercado particularmente interessante para emissores latino-americanos é a dívida atrelada à sustentabilidade. Esses títulos e empréstimos diferem da dívida verde em geral, na qual uma empresa usa os recursos para financiar projetos ambientais. Com títulos ligados à sustentabilidade, as empresas definem metas, como reduzir as emissões de carbono. Se não cumprirem esses objetivos, são penalizadas - e os investidores recompensados - com o aumento das taxas de juros. Isso permite que companhias que não podem se concentrar em negócios ambientais, como locadoras de veículos, entrem no mercado.

Com a expansão das emissões, alguns investidores e analistas questionam se os títulos são realmente verdes ou se acontece o chamado “greenwashing”, ou a prática de maquiar metas ambientais.

Valerie Potenza, analista da Xtract Research, disse que, em alguns casos, o aumento dos juros embutido em títulos ligados à sustentabilidade pode ser irrelevante. Em outros, os investidores não têm como saber se o emissor está cumprindo as metas.

“Pelo menos por enquanto, um título atrelado à sustentabilidade pode ser simplesmente o que um emissor disser que é”, escreveu a analista em relatório de 19 de fevereiro.

No curto prazo, o ceticismo não deve afetar o ritmo de emissões da América Latina. Os emissores estão ansiosos para mostrar que estão em linha com regiões como a Europa, que tem liderado o mercado ESG, disse Anne van Riel, codiretora de mercado de capital financeiro sustentável para as Américas no BNP Paribas.

“É uma combinação de interesse genuíno em melhorar as coisas, especialmente quando há tanto foco negativo em alguns desses tópicos, combinado com o orgulho em mostrar o que fazem e entregam”, disse em entrevista.

A concessionária de energia italiana Enel foi a primeira a emitir títulos ligados à sustentabilidade em 2019. Desde então, a estrutura se expandiu na América Latina, onde a Suzano se tornou a segunda empresa do mundo a vender os títulos. A Suzano emitiu mais dessas notas depois disso, e outras empresas brasileiras seguiram os passos, como a Klabin, a Movida e a holding Simpar.

A varejista de comércio eletrônico argentina Mercado Livre e a produtora de soja e milho André Maggi Participações venderam títulos sustentáveis este ano, uma estrutura relacionada na qual os recursos podem ser usados para financiar projetos verdes e sociais.

A Klabin conseguiu reduzir os juros em 0,35 ponto percentual sobre os US$ 500 milhões em títulos ligados à sustentabilidade emitidos em janeiro, disse Gustavo Rocha Garcia, tesoureiro da empresa.




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