Brasil tem papel central e deve assumir dianteira na transição energética mundial, afirmam especialistas

Na Live do Valor, Jorge Camargo, do CEBRI, e Thiago Barral, da EPE, falam sobre a posição estratégica do país Brasil na construção de uma economia de baixo carbono

Valor Econômico - 24/08/2021
Por Gabriela Ruddy
 
O Brasil precisa sair da posição de antagonista da transição energética para voltar a ser um protagonista, defendeu o coordenador do núcleo de energia do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), Jorge Camargo. "Não se pode falar hoje sobre transição energética no mundo sem falar na Amazônia”, disse.

Presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Thiago Barral ressaltou que o país tem participado de forma ativa das discussões internacionais sobre a transição para uma economia de baixa emissão de carbono. “Um país que tem 50% de energias renováveis na sua base energética não pode ser tímido numa discussão sobre a transição energética e a descarbonização”, afirmou.

De acordo com Barral, a participação do país na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2021, a COP26, em novembro, vai ser baseada nessa pauta.

Os dois especialistas participaram da Live do Valor desta terça-feira (24), que teve como tema "O Brasil na geopolítica da transição energética", sobre a construção de uma economia com menos carbono. O CEBRI, a EPE e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) lançaram um programa conjunto para debater e apresentar propostas para a formulação de políticas públicas, visando à meta de carbono neutro até 2060.

Camargo lembrou que a transição para uma economia de baixo carbono é um desafio planetário, e que vai exigir cooperação global. “Certamente, Estados Unidos e China vão ter que cooperar, junto com a Europa e o Brasil, que é um protagonista nessa transição, pela Amazônia”, complementou.

Na visão do especialista, nesse contexto, não há mais justificativas para guerras pelo petróleo, como ocorreu no último século. Ele lembrou que a segurança energética é hoje uma preocupação tanto do Ocidente quanto do Oriente.

“Hoje há um cenário de abundância de recursos energéticos. A Ásia é o grande demandante do recurso e um dos [continentes] mais preocupados com a segurança energética, o que antes era uma preocupação principalmente americana e ocidental. Antes, se defendia a segurança energética por meios militares, mas a China, por exemplo, trabalha sob uma outra lógica", disse.

Para o coordenador do Cebri, um dos questionamentos geopolíticos sobre a transição energética diz respeito à descarbonização nos países pobres. “É muito mais fácil para regiões como EUA e Europa fazerem a transição, pois eles têm recursos e seus governos têm capacidade para financiar isso, o que outros países não terão. Uma das grandes questões é se vai haver fluxo de recursos para financiar uma transição justa”, acrescentou.

Brasil precisa assumir liderança assertiva e rever políticas, afirmam analistas

O país precisa buscar se inserir de forma assertiva como uma liderança no processo de transição energética, frisou Thiago Barral. “O Brasil já fez muito, mas ainda tem muito a fazer. Estamos falando da inserção em cadeias globais na nova geopolítica energética e nos novos mercados que estão surgindo. O Brasil é o país que mostrou que energias limpas podem ser competitivas e que desenvolveu políticas públicas e bases tecnológicas nessa questão”.

Na avalição de Camargo, o Brasil precisa aperfeiçoar políticas, se posicionar melhor no contexto da transição para uma economia de baixo carbono. Ele criticou, por exemplo, a aprovação, junto à medida provisória da capitalização da Eletrobras, da previsão de investimentos em usinas térmicas a gás e gasodutos no interior do país.

“Temos que aperfeiçoar nossas políticas para tornar o Brasil mais bem posicionado para abraçar a transição energética. Precisamos tornar o Brasil mais atraente para investimentos em energias, de todas as formas”, disse. Camargo lembrou que os fluxo de investimentos também deve se direcionar para apoiar a descarbonização da economia.

“Há uma esperança de que os fluxos financeiros vão apoiar essa transição na economia. Para isso, é necessária uma precificação do carbono. É preciso que o direcionamento dos investimentos faça sentido para a economia mundial e evite desastres”, afirmou.




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