Geradoras de energia renovável viram alvo de aquisições no país

Ibitu, Rio Energy, Renova e usinas da EDP estão entre os ativos à venda neste momento

Valor Econômico - 11/01/2022
Por Mônica Scaramuzzo e Robson Rodrigues


Pelo menos quatro empresas de energia renovável de grande porte estão à venda no país, atraindo o interesse de grupos e gestoras de dentro e de fora do Brasil. Os dois principais ativos - Ibitu e Rio Energy - são avaliados em R$ 12 bilhões, segundo fontes. Outros negócios são da Renova Energia, que vendeu empreendimentos em 2021 e pode comercializar outros no plano de recuperação judicial, e da EDP Renováveis, com aberta estratégia de rotação de ativos.

Com a maior demanda global por energia limpa, empresas renováveis no Brasil passaram a ser alvo de interesse de investidores internacionais. Levantamento do Itaú BBA, feito a pedido do Valor, mostra em que em 2021 foram fechadas 22 transações do setor, com valor de negócio de R$ 16 bilhões. Para este ano, a estimativa é chegar a R$ 20 bilhões.

Parte dos recentes investimentos feitos no setor veio de fundos de private equity (que compram participações em empresas) e que agora quer sair do negócio. “Grupos desenvolvendores de projetos vendem ativos para reciclar capital para aportar em outros projetos”, diz Gustavo Miranda, responsável pela área de banco de investimento do Santander.

Colocada à venda no meio de 2021, a Ibitu, controlada pela gestora americana Castlelake, tem ativos eólicos e hidrelétricas no Ceará, Rio Grande do Norte, Piauí, Santa Catarina, Mato Grosso e Minas Gerais - com 877 megawatts (MW) de potência instalada.

A companhia de energia renovável teve origem nos ativos da Queiroz Galvão Energia, quando o grupo entrou em crise financeira em meio à Lava Jato e colocou controladas em recuperação judicial. O fundo americano Castlelake comprou a dívida da subsidiária de energia e assumiu o controle.

Com planos bilionários de expansão para o negócio, a Castlelake passou a ser assediada por fundos e contratou o BTG Pactual e o Credit Suisse para encontrar interessado nos ativos, avaliados entre US$ 900 milhões e US$ 1 bilhão.

Outro alvo são os negócios da Rio Energy. Depois de desistir de fazer oferta pública de ações (IPO, em inglês) no ano passado, a empresa controlada pelo grupo americano de private equity Denham Capital, contratou o Bank of America (BofA) e o Itaú BBA para vender seu negócio, apurou o Valor com pessoas a par do assunto.

A Rio Energy tem três parques eólicos operacionais que somam quase 485 MW em potência instalada, na Bahia e no Ceará. Além de dois empreendimentos eólicos na Bahia e um no Ceará previsto para iniciar em 2022. Não é a primeira vez que a companhia negocia a venda de seu negócio. Após desistir do IPO, a companhia voltou a procurar comprador. Os ativos são avaliados em cerca de R$ 6 bilhões.

Outro grupo que pode vender ativos em 2022 é a Renova Energia. Em recuperação judicial desde 2020, a empresa vendeu a Brasil PCH por R$ 1,1 bilhão e a participação no Complexo Hidrelétrico Serra da Prata para liquidar parte do débito no mercado. A geradora ainda tem hoje uma dívida de quase R$ 2 bilhões e deve continuar se desfazendo de alguns negócios.

O parque eólico Alto Sertão III, na Bahia, vai ficar com a empresa. Entretanto, ela tem na manga ainda 16 projetos de áreas em desenvolvimento com contratos de arrendamento, sendo que 12 deles já possuem licença prévia ambiental para desenvolvimento de parques eólicos, o que transforma essas áreas em outorgáveis. As áreas ficam nos estados da Bahia, Paraíba, Pernambuco e Piauí e reúnem potencial de geração da ordem de 3,62 GW e a empresa avalia qual será alienada.

Um dos principais países que atraem investimentos nesse segmento, o Brasil está no radar de investidores, uma vez que tem recursos naturais, custos baixos e regulação estável. Além disso, fora dos EUA e Europa, fundos do mundo não encontram grandes plataformas para investimentos no setor.

“O Brasil combina mercado grande e estabilidade regulatória para geração de energia renovável”, avalia o sócio e diretor da área de Consultoria da Thymos, Alexandre Viana. Exemplo prático disso é que o Brasil entrou de vez no radar do grupo EDP. A EDP Brasil adquiriu no ano passado 100% da AES Inova e fez parcerias na viabilização de unidades solares de larga escala. O presidente da empresa, João Marques da Cruz, já afirmou em diversas situações que a estratégia da companhia passa pela venda de ativos operacionais para bancar novos investimentos.

Já o braço de geração, a EDP Renováveis, tem o Brasil no horizonte 2021-2025. Com capacidade global instalada de mais de 12,6 GW, a meta é atingir 20 GW de capacidade até 2025. A desvalorização da moeda brasileira é outro ponto que deixou os ativos mais baratos e deve chamar atenção de “players” internacionais. O dólar alto tem fôlego para subir mais e alguns analistas falam que a moeda pode chegar perto dos R$ 6 já neste trimestre. A empresa colocou à venda uma usina hidrelétrica do Espírito Santo e outras duas do Amapá. O Pipeline , site de negócios do Valor, antecipou no ano passado que os ativos da EDP, Ibitu e Rio Energy estão à venda.

Consultores ouvidos pela reportagem acreditam que as eólicas e solares devem continuar liderando nos negócios em 2022, visto que o pilar de crescimento em termos de rentabilidade, escala de projetos e indústria consolidada está nestas fontes.

Soma-se que a agenda ambiental, social e de governança (ESG, na sigla em inglês) vinculada a estas fontes e à curva de aprendizado que barateou o preço do megawatt-hora (MWh) tem chamado atenção de agentes que querem diversificar suas operações, desde empresas que visam uma gestão de risco a longo prazo até mesmo petroleiras.

A agenda de privatizações não andou como o governo queria, mas o BNDES anunciou que a oferta de ações da Eletrobras será lançada em março. Na operação, a União deixará de ter 72,33% do capital votante e será diluída no capital total da companhia. A expectativa é que a fatia da União caia para 45% e que deixe de ser a acionista majoritária na elétrica, o que atrai desde investidores pessoa física até corporações.

Alexandre Viana, da Thymos, acrescenta que a abertura do mercado livre de energia, segmento em que as companhias com grande demanda de energia podem negociar diretamente com geradores e comercializadores, deve dar mais força para as fusões e aquisições no Brasil. O BNDES e o Banco do Nordeste (BNB), grandes financiadores de projetos de expansão do setor elétrico, querem inclusive avançar em iniciativas no mercado livre e energias renováveis.

Outras operações estão acontecendo desde 2021 e devem se concretizar neste ano. Como a fusão entre os ativos de energia da Votorantim Energia e do fundo de pensão canadense CPPIB, que deve criar um dos maiores grupos do setor, a Nova VTRM, avaliada em R$ 17 bilhões e dona de uma série de ativos de geração renovável e do controle da Cesp. A empresa recebeu aporte de R$ 1,5 bilhão do CPPIB para expansão que pode ser feito em greenfield e aquisições.

Procuradas, a Denham Capital, a EDP Renováveis, a Ibitu, a Renova e a Rio Energy não quiseram comentar o assunto. A Castlelake não retornou os pedidos de entrevista.




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