A desaceleração esperada reflete atrasos nos cronogramas de construção de projetos, devido a interrupções na cadeia de suprimentos, bloqueios compulsórios (“lockdowns”) e medidas de distanciamento social. Ainda assim, as previsões para este ano indicam um crescimento de 6% da capacidade instalada acumulada de fontes renováveis no planeta.
Por outro lado, a IEA prevê uma recuperação da indústria de energia renovável em 2021, motivada principalmente pela entrada em operação dos projetos que estavam previstos inicialmente para este ano. Com isso, a expectativa é que, em 2021, o ritmo de crescimento do setor no próximo ano retorne ao patamar do ano passado. Essa nova estimativa, no entanto, ainda representa uma queda de 10% em relação às previsões iniciais para o próximo ano.
No mercado de veículos elétricos, também está prevista queda de 18% das vendas mundiais em 2020, para 1,7 milhões de unidades, devido à crise, após seguidos anos de forte crescimento, segundo levantamento feito pela BloombergNEF’s (BNEF). O impacto, porém, é ainda maior para carros com motor a combustão, cujas vendas devem recuar 23%, na mesma comparação. Segundo a consultoria, em longo prazo, a eletrificação do transporte mantém previsão de aceleração. Em 2040, os modelos elétricos vão responder por 58% dos novos veículos vendidos e por 31% de toda a frota de carros, de acordo com a BNEF.
Para André Arnaldos, especialista e sócio do escritório de advocacia Ashurst nas Américas, em curto prazo, os investimentos em fontes renováveis, assim como em muitas outras indústrias relacionadas à infraestrutura, enfrentam desafios para dar continuidade à construção e operação de projetos, com pessoas sendo acometidas pela covid-19 e funcionários que precisam aderir às políticas de confinamento. “Entretanto, esperamos que o compromisso com a transição energética permaneça forte na América do Sul e no Brasil”, diz.
Relatório do Ashurst lançado este mês, baseado na opinião de 2.000 líderes empresariais em países do G20 em relação ao mercado global de energia indica que o processo de transição energética será mantido em longo prazo.
Segundo o documento, aproximadamente 20% dos entrevistados informaram que preveem investir em fontes renováveis de energia, em transição energética e tecnologias de descarbonização na América do Sul nos próximos cinco anos. Ao mesmo tempo, do total de investidores entrevistados que já atuam no Brasil, 66% responderam que estão investindo em usinas eólicas e/ou energia solar no país.
Além da América do Sul, o estudo identificou tendência crescente de investimentos em baixo carbono globalmente. No G20, 94% dos entrevistados disseram esperar aumento de investimento de suas organizações em transição energética, com aumento médio dos aportes de 43%, em dólar.
“O conjunto de dados foi levantado antes do advento da crise de covid-19 e da forte redução de preços do petróleo. No entanto, acreditamos que os fundamentos de mercado e as perspectivas para a transição para energia limpa permanecerão praticamente inalteradas no longo prazo”, diz Arnaldos.
De acordo com ele, os investimentos em renováveis podem até ser reforçados em médio prazo, dado que os países da região precisarão lidar com a queda da economia, o que pode resultar em incentivos e subsídios para o setor. Nessa linha, as indústrias poderão gerar novos empregos para o atendimento dos empreendimentos.
Perguntado se a instabilidade econômica e política no Brasil pode afugentar investidores estrangeiros, o especialista explica que a instabilidade é um obstáculo para qualquer tipo de investimento de longo prazo. Ele, no entanto, entende que a necessidade de fazer a transição energética pode se tornar uma prioridade entre políticos e cidadãos, o que levará a um quadro jurídico estável, protegido de decisões políticas e eleitorais de curto prazo.