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Nível crítico de oito usinas complica geração de energia no pico do verão

Governo reduz vazão de Três Marias novamente

Valor - 16/09/2014 

Por Daniel Rittner
Com a queda acentuada dos reservatórios nos últimos meses, o atendimento da demanda por energia no horário de ponta deve se transformar em um novo quebra-cabeça para o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) durante o início do verão, em dezembro. Pelo menos oito usinas hidrelétricas de médio ou grande porte estão tecnicamente impossibilitadas de produzir no máximo de sua capacidade devido ao baixo volume de água armazenado nas represas.

Em algumas usinas, o volume se encontra atualmente até 15 metros abaixo da altura necessária para fazer com que suas turbinas funcionem a plena potência, segundo levantamento obtido pelo Valor. Essa situação crítica pode ser observada em hidrelétricas como Furnas, Marimbondo, Água Vermelha, Emborcação, Nova Ponte, Três Marias, Sobradinho e Itaparica. Todas elas ficam nas regiões Sudeste e Nordeste, próximas dos centros de consumo, e são cruciais nos planos do ONS.

Nos meses de estiagem, quando a temperatura costuma ser mais amena, o reforço das térmicas normalmente compensa a baixa geração hidrelétrica e deixa o sistema em relativa tranquilidade. Em janeiro e em fevereiro, com os dias mais quentes do verão, a equação se complica. O problema se acentua no horário de ponta, logo depois do almoço, quando escritórios e residências ligam seus aparelhos de ar-condicionado com toda a força e pressionam o sistema. Em 5 de fevereiro de 2014, o recorde de demanda instantânea no país foi atingido às 15h41, com 85.708 megawatts (MW) - cerca de 15% a 20% acima do que vem sendo verificado nas últimas semanas.

Pois é justamente nessa época do ano que todas as hidrelétricas precisam estar funcionando na plenitude para dar conta do recado. Agora, com o nível dos reservatórios bastante comprometido, isso pode simplesmente não acontecer. "A operação no horário de ponta pode se tornar um caos neste verão", diz um engenheiro que conversa regularmente com o ONS e trabalha em uma associação do setor elétrico responsável pelo levantamento.

Conforme explica esse engenheiro, a geração de energia hídrica é proporcional à altura da queda d'água e à vazão turbinada. Quanto maior for a combinação das duas, maior a produção de eletricidade. Nos momentos em que o reservatório não está cheio, é possível compensar a queda menor com uma vazão mais forte, mas isso tem um limite - e esse limite é conhecido no jargão do setor como "queda de referência". Abaixo dela, nem adianta despejar mais água nas turbinas: o nível do reservatório simplesmente impede que haja maior geração de energia hidrelétrica.

A partir desse conceito, pode-se entender a extensão do desafio enfrentado pelo ONS. Todas as oito usinas apontadas no levantamento já operam hoje abaixo de suas quedas de referência e não podem gerar o máximo de potência para o qual foram projetadas.

O pior caso é o da hidrelétrica de Emborcação, no rio Araguari (MG), com 1.192 MW de capacidade instalada e onde o nível do reservatório está 14,9 metros inferior ao da queda de referência.

Outra situação grave é o da usina de Três Marias, no rio São Francisco (MG), com 13,7 metros de defasagem. Em Marimbondo, que tem 1.440 MW e está localizada n a divisa de São Paulo com Minas Gerais, o volume de água precisa aumentar 11,5 metros.

De acordo com os registros do ONS, a maioria desses reservatórios nunca terminou o período seco em níveis tão baixos. O governo aposta em uma hidrologia mais regular para enchê-los até o fim da próxima temporada de chuvas. Ainda que isso ocorra, é temerário dizer se as precipitações vão ser capazes de recolocar o volume de água na altura das quedas de referência até janeiro ou fevereiro, o que seria decisivo no atendimento do horário de ponta. O período de chuvas recomeça oficialmente em dezembro e termina apenas em maio.

Um interlocutor da presidente Dilma Rousseff no setor elétrico chama atenção para outro problema. Ele lembra que, na operação de qualquer sistema, é preciso sempre trabalhar com uma folga de cerca de 5% na geração de energia. Ou seja, além do necessário para atender a demanda máxima, deve-se ter uma margem de segurança de 5% na oferta. Esse adicional, conhecido como "reserva girante", é uma blindagem essencial contra imprevistos - como o desligamento abrupto de uma usina ou a queda de um grande transformador.

O efeito de um desligamento desse tipo, quando se opera no limite da geração, pode ser um blecaute desorganizado e de proporções indesejadas. Nos Estados Unidos, sempre que a "reserva girante" está abaixo de 3%, começa a haver cortes de carga selecionados para não colocar em risco o sistema como um todo. No último verão, durante pelo menos dois dias de janeiro de 2014, o setor elétrico brasileiro chegou a trabalhar com menos de 1% de folga.

Governo reduz vazão de Três Marias novamente

Por Daniel Rittner e Natalia Viri

O governo diminuiu novamente a vazão da hidrelétrica de Três Marias, no rio São Francisco (MG), como forma de evitar o esvaziamento completo do volume útil de seu reservatório. A quantidade de água liberada pela usina caiu de 170 para 160 metros cúbicos por segundo. Nas próximas semanas, pode chegar a 140 m3 /s - menos de um quarto do normalmente verificado nesta época do ano. O reservatório de Três Marias está com 6,2% de sua capacidade máxima.

A previsão da Cemig, responsável pela operação da usina é que atinja 0,5% (cenário pessimista) ou 3,25% (cenário otimista) no fim de outubro. Se a represa esvaziar, um trecho de 40 km do São Francisco secará totalmente, já que não tem nenhuma outra fonte de água.

Ontem, a Eneva informou que uma das unidades geradoras da usina de Pecém I, no Ceará, está desligada desde o dia 25 por pane no equipamento. A termelétrica, controlada em conjunto com a Energias do Brasil, está com indisponibilidade não programada de 360 megawatts (MW) de geração. A previsão é que a unidade volte a operar até o fim do ano.

Em comunicado, Eneva e Energias do Brasil destacaram que a paralisação da unidade poderá impactar o cálculo do ressarcimento por indisponibilidade a partir de 2016, de acordo com a regra da média móvel de 60 meses, que está sendo praticada sob o efeito de sentença judicial, acrescentou o documento.






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