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Renováveis podem receber sinal econômico favorável

O caminho para ampliar a adoção de fontes renováveis na matriz global passa pela adoção de critérios econômicos que mensurem o impacto ambiental.

Valor - 28/4
 
Roberto Rockmann
 
O caminho para ampliar a adoção de fontes renováveis na matriz global passa pela adoção de critérios econômicos que mensurem o impacto ambiental de todas as fontes quando se busca a contratação, sistemas de energia mais flexíveis, como a rede inteligente de energia, que permitam maior uso de usinas eólicas e solares e estímulo a veículos mais eficientes e que consumam mais biocombustíveis. Esses são os principais pontos recomendados pelo estudo “Roteiro para a Energia do Futuro Renovável”, publicado recentemente pela Agência Internacional de Energia Renovável (Irena, sigla em inglês).
 
 
A reunião sobre o clima, realizada em Paris, em dezembro, poderá mudar uma regra existente no mercado de energia: quando a cotação do barril de petróleo disparava, investimentos em energias renováveis eram acelerados, quando o preço caía, os incentivos eram reduzidos. Hoje isso pode ter mudado. O sinal econômico favorável às fontes renováveis poderá vir da nova postura de grandes investidores, que estão cada vez mais interessados em observar os impactos das mudanças climáticas sobre seus negócios. Nos Estados Unidos, fundos de pensão como o New York State Common Retirement e o de aposentados da Universidade da Califórnia, já começaram a exigir das petroleiras nas quais investem informações sobre como as empresas se preparam para a economia de baixo carbono. Para Lavinia Rocha de Hollanda, coordenadora de Pesquisa da FGV Energia, o cenário energético mundial mudará nas próximas três décadas com uma preocupação crescente em relação ao aquecimento global. “O mundo caminha para um avanço das energias renováveis e é um caminho sem retorno em um ambiente em que a precificação do carbono ganha alcance”, destaca.
 
 
“O petróleo funcionou por décadas como preço diretor das fontes de energia, mas agora podemos assistir ao início do fim dessa era, com as medidas de Paris tendo realmente efeito”, diz o ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo (ANP) Helder Queiroz. Segundo ele, a velocidade de penetração de novas tecnologias, como o carro elétrico e a energia solar, o que reduziria o consumo de petróleo, dependerá da criação de políticas públicas de incentivo para essas fontes. Em dezembro, os 195 países representados na Conferência do Clima em Paris chegaram a um acordo, que valerá a partir de 2020, obrigando a participação de todas as nações no combate às mudanças climáticas. O acordo faz referência a esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5ºC. “A velocidade da adoção depende de estímulo em um momento em que o mundo está crescendo a um ritmo inferior ao da década passada, mas os riscos ambientais são maiores”, diz.
 
Outro ponto a ser observado é a mudança da matriz de transportes. No Brasil, que responde por 3% do consumo de derivados no mundo, metade da demanda energética se origina do setor de transportes, com as rodovias respondendo por 60% da circulação de mercadorias. A Agência Internacional de Energia (AIE) prevê que, em 2035, o petróleo, o gás natural e o carvão fornecerão 75% da energia consumida em todo o mundo.
 
 
O desafio do Brasil será destravar diversificar a matriz de transportes e deslanchar um novo ciclo de investimentos no setor sucroalcooleiro, atingido pelo alto endividamento e pela política de controle dos preços dos derivados de petróleo, vigente entre 2009 e 2013. Mais de 60 usinas de açúcar e álcool fecharam as portas nos últimos quatro anos, e o país teve de importar etanol de milho dos Estados Unidos, em alguns momentos, para abastecer a frota interna. “O mercado mundial de biocombustíveis também não decolou, o que reduziu o incentivo aos produtores nacionais, que agora se encontram em um momento delicado”, destaca Daniel Rocha, diretor executivo da Accenture Strategy e líder da indústria de energia.
 
Desde 1990, o Brasil tem assistido a mudanças nas emissões de gases de efeito estufa. A queda nas taxas de desmatamento da Amazônia se combinou ao aumento da frota de veículos e ao predomínio dos caminhões movidos a diesel para transportar mais da metade das cargas produzidas no país. Resultado: o setor de energia representa 29% das emissões totais, quase o triplo dos 11% em 2003. Enquanto no mundo o carvão é o principal emissor, no Brasil o petróleo é a principal fonte de poluentes globais, respondendo por 72% das emissões de dióxido de carbono em 2013, ainda segundo o relatório do Observatório do Clima, divulgado em agosto do ano passado.
 
 
“O Brasil é um país sobre rodas e isso demandará muitos anos para ser revertido”, afirma o coordenador do núcleo de logística e supply chain da Fundação Dom Cabral, Paulo Resende. O desafio que se coloca é diversificar a matriz de transportes – ampliando o uso de outros modais, como hidrovias, ferrovias, cabotagem – e avançar no uso de etanol e biodiesel nos tanques de caminhões e máquinas pesadas. O modal rodoviário consome cinco vezes mais que o ferroviário e sete vezes mais que a cabotagem. A demanda pelo etanol será crescente, podendo saltar dos atuais cerca de 25 bilhões de litros para algo entre 47 ou 68 bilhões em 2020. Sem maior produção local, será preciso aumentar a importação de etanol vindo dos Estados Unidos, menos competitivo, ou usar mais derivados de petróleo, também importados, já que a Petrobras, para recuperar suas contas, vem reduzindo os investimentos em refino.




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