Pesquisa inédita identifica 947 milhões de toneladas de carbono perdidas no desmatamento da Amazônia

Colapso ocorreu nas bordas da floresta e aumenta crise climática global

O Globo - 30/09/2020
Por Renato Grandelle


Um dos mais conhecidos retratos da emissão de poluentes do Brasil é ainda mais grave do que se pensava. Em estudo publicado esta quarta-feira na revista “Science Advances”, uma equipe internacional de pesquisadores mostrou que a Amazônia liberou 3,57 bilhões de toneladas de carbono entre 2000 a 2015, uma quantia 37% maior do que a conhecida até agora (2,6 bilhões).

O levantamento detectou, pela primeira vez, as perdas de carbono das bordas da floresta, que somam 946 milhões de toneladas. Sua identificação foi possível através da fusão de diversas ferramentas, como o escaneamento a laser da floresta, mapas da cobertura vegetal e trabalhos de campo. O estudo foi conduzido no Laboratório de Ecossistemas Tropicais e Ciências Ambientais do Inpe, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.

O desflorestamento é responsável por 44% da emissão de gases de efeito estufa no país – o restante vem, principalmente, da agricultura, da indústria e da queima de combustíveis fósseis.

De acordo com a pesquisa, o novo dado pode contribuir para a elaboração de novas políticas públicas contra o desmatamento e as mudanças climáticas – o governo terá, ao mesmo tempo, um olhar mais abrangente sobre a situação geral da floresta e a possibilidade de desenvolver soluções condizentes com cada região.

– O desmatamento provoca alterações no microclima conforme avança no perímetro da floresta – descreve Liana Anderson, pesquisadora do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e coautora do estudo, intitulado "Colapso permanente da biomassa nas bordas florestais amazônicas após o desmatamento leva a perdas de carbono não contabilizadas".

Anderson acrescenta que, diante da ameaça do desmatamento, a vegetação fica mais exposta ao vento e à incidência de radiação solar. A temperatura aumenta e há mudanças na umidade. Todos esses fatores levam à mortalidade das árvores.

A partir do conhecimento da emissão considerável – mas negligenciada – provocada pela fragmentação da floresta, o governo poderá planejar melhorar a exposição das bordas.

– Teremos um olhar macro das conexões da vegetação, e daí olhamos também situações específicas. Por exemplo, quando há uma pastagem vizinha a uma área de floresta, podemos plantar uma árvore que bloqueie a entrada dos ventos, protegendo a vegetação.

O Brasil contribuiu, em média, com 79% do desmatamento da Amazônia e 67% das perdas de borda, mas o estrago provocado na divisa entre áreas devastadas e protegidas também é visto nos outros oito países em que o bioma está presente.

Outro alerta é que, ao longo do tempo, o perímetro desmatado fica mais perigoso para a área remanescente da floresta. Quanto mais velha é a porção de terra devastada, maior é o acúmulo de material combustível ao seu redor, o que pode potencializar as queimadas.

Para os autores do estudo, "manter o carbono estocado nas florestas é crucial para evitar o agravamento do aquecimento global", além de conservar a regulação do clima e o suprimeiro de água.

Embora a coleta de dados tenha sido concluída em 2015, os pesquisadores preocupam-se com a tendência de avanço do desflorestamento vista nos últimos dois anos. Segundo eles, "além da perda direta do carbono devido à remoção da cobertura florestal, o desmatamento induz a formação de bordas florestais, devido à fragmentação, aumentando as perdas de carbono, e consequentemente incrementando as emissões para a atmosfera".

Além do Inpe e do Cemaden, a pesquisa teve a colaboração de pesquisadores de universidades dos EUA, Reino Unido, Itália e Finlândia.




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